sábado, 1 de fevereiro de 2014

PAS241. Uma companhia pouco desejável


Quando assomou à porta da rua para ver a animação quase deu de caras com ele.
A sua primeira impressão foi de susto. Emitiu uma exclamação entrecortada e deu um passo atrás, instintivamente. Ele, por sua vez, deteve-se e esboçou um sorriso triste.
- Boas noites, menina Baxter. Assustei-a?
Estava bonito com a cara barbeada, bem vestido e penteado. Tinha tirado o chapéu ao vê-la. As suas botas brilhavam, de bem engraxadas que estavam. Se não fosse aquele terrível revólver que lhe pendia do cinto…

- Não… Não me assustou – respondeu sobressaltada, atrevendo-se a olhá-lo a direito. – Não o tinha reconhecido. Como… Como está você?
- Muito bem, obrigado. Seu pai está lá dentro?
- Sim… Está.
- E a sua mãe e os seus irmãos? Tive o gosto de ver Sonnie e Joe quando aqui estiveram há quinze dias.
- Bem obrigado – Debbie já se atrevia a olhá-lo nos olhos, passada a primeira impressão. – Esta vez tocou a meu irmão e a mim…
- Com o que muito me alegro… Irão amanhã?
- Muito cedo…
Era uma conversa tola. No entanto, era uma conversa e isso bastava. Debbie sentia-se demasiado nervosa para pensar com clareza. Apenas reparou que alguns transeuntes paravam a olhar. Claro, ele era «Cholla» Jim…
- Já sabe quem sou, não é verdade?
Ela sobressaltou-se e anuiu com a cabeça. Ele fez um trejeito e suspirou.
- Ninguém pode escolher sempre o seu caminho, menina Baxter. No entanto, não acredite em tudo o que ouvir contar de mim.
Era um pedido. E a ele importava-lhe o que ela acreditasse.
- É… certo que matou tanta gente?
- Desgraçadamente, sim. O facto de terem sido homens maus ou loucos provocadores não apaga a realidade. E se preferir não continuar a falar comigo, não me zangarei por isso.
No entanto, ele queria falar, estar a seu lado. Diziam-no claramente os seus olhos…
- Não… não sou a pessoa indicada para o julgar. Agora me recordo: tenho de lhe agradecer por ter ajudado Joe naquela noite.
- Pedi-lhe para não lhe contar…
- Só me contou a mim. Foi muito generosa a sua atitude…
- O rapaz obedeceu a um impulso muito lógico e meteu a cabeça num vespeiro. Isso lhe servirá de lição. Além disso, a minha intervenção não teve importância de maior. Limitei-me a tirá-lo dali, impedindo que o maçassem.
- Joe não contou o caso assim.
- Deve ter exagerado um pouco.
Houve um silêncio embaraçoso. Debbie humedeceu os lábios, olhou para o interior, onde seu pai estava escolhendo mercadorias.
- Lutou com Orry Lander?
- Quem lhe disse? Sim, tive o prazer de lhe dar uma boa sova. Adverti-o de que não queria vê-lo em Jerome. É… seu amigo?
Debbie levantou o olhar, muito séria.
- Não, não é…
Milner descobriu o par e disse-o a Baxter. Este voltou-se, fez um gesto e acercou-se imediatamente. «Cholla» viu-o chegar.
- Aí vem seu pai.
Debbie sobressaltou-se, voltou-se rapidamente. Baxter chegou junto deles e olhou fixamente «Cholla».
- Boas noites.
- Olá, senhor Baxter. Perguntava justamente a sua filha por si. Como está?
Baxter aceitou a mao estendida, apertando-a.
- Bem, obrigado. Como devo chamá-lo?
- Suponho que como todos. «Cholla» Jim é o meu nome de guerra.
- Bem, senhor «Cholla». Queria pedir-lhe um favor.
Os lábios de Jim contraíram-se. No entanto, refez-se, calmamente.
- Se é o que imagino, senhor Baxter, não o peça. Uma vez que já os saudei, seguirei o meu caminho. Boas noites, menina Baxter. Tive muito prazer, senhor Baxter.
Saudou cortesmente e afastou-se. Debbie estava nervosa e aborrecida. Olhou seu pai com reprovação.
- Não devias ter sido tão duro, pai. Apenas me estava perguntando pela mãezinha.
Baxter olhou-a fixamente. Debbie corou ligeiramente.
- Às vezes é melhor ser um pouco duro ao princípio, filha. Quando casares e tiveres filhos já crescidos, compreendê-lo-ás… Anda, entra. Ajudar-me-ás a escolher umas sementes.
Pôs-lhe uma mão sobre o ombro e empurrou-a brandamente. Debbie voltou a cabeça e contemplou a alta e esbelta figura que se afastava rapidamente. Com um suspiro fundo, obedeceu.
(Coleção Arizona, nº 52)

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